quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

No post anterior inclui um texto de Hilda Hilst.
Agora nesta postagem também vou incluir um texto que não é meu, o autor é Fernando Sato.
Aproveito pra declarar que não estou em crise criativa ou digitativa,mas quando abri o e-mail do Fernando Sato com este texto, me identifiquei,me senti traduzida emocionalmente e éticamente.
Decidi publica-lo aqui pra dividir esse texto do Fernado Sato com vocês.
Feliz 2010.
beijos,bom senso e boa sorte
Grace Gianoukas


Amigos bons
de Fernando Sato

2009. Ano após ano escrevo alguma parada no fim de ano. Talvez pra acobertar
erros futuros ou prazeres passados. Sempre ter em mente. Passar. Livrar a
cara. Mandar um basta. Tanto faz. Hoje é quase amanhã e tenho que começar de
alguma forma. O fim de ano foi trevas. E no final, nem tanto, nem tanto. O
dramaturgo levou 4 tiros, enfrentou a cidade furiosa e permaneceu.
Provavelmente mais forte, porém, diferente. O casal perfeito provou a sua
inexistência e passou dias nos tribunais do trânsito, antes de ensinar a
filha que precisa olhar pros dois lados antes de atravessar. Estão
diferentes, mas provavelmente mais fortes. Eu perdi uma grande amiga, sem me
despedir, chorar em velas ou recortar fotos de jornal. Perdi e sei que perdi
mais ainda, pois não a tinha mais. A distância em cidade grande triplica em
dias de chuva. E o celular, quando não toca? E a mensagem quando a gente não
manda? A gente depende tanto e reclama mais ainda, mas se conforta no perigo
do desleixo. Afinal, a cidade grande faz barulho, a luz faz barulho, o
silêncio faz barulho. Precisamos de mais apagões por ano, pra silenciar de
verdade e parar de vibrar em repouso.
Eu já acho normal tanta coisa absurdaS Todo moleque que vem me pedir grana
no farol, acho normal. Acho normal nem procurar nos bolsos alguma moeda.
Aquela gente triste que se aborrece depois que acontece alguma tragédia na
porta de casa, acho normal. Acho normal não me sensibilizar pela sorte
alheia. A vizinhança que, em berros, desautoriza as leis democráticas de
condominio em varais do hall social, acho normal. Acho normal se algum
estampido surdo de um tapa ecoar pelos andares abaixo. Tanto nego, que na
hora agá, na hora do vamos ver, se esconde no muro dos fundos, acho normal.
Acho normal que tudo é desculpa pra evolução da tolerância. E o que é
absurdo afinal?
Temos que aquietar. Tudo é tão veloz e passageiro, o que fica? Temos que
aquietar. Reconquistar os dias de descanso, rede, sono e sonho. Acordar por
minutos, talvez horas. Acordar vendo a manhã virar dia. Temos que aquietar.
Sentir a falta, saber do despreparo, do impróprio. Entender os limites do
entendimento. Querer a despedida. Procurar a memoria tranquila e pendurar as
fotografias. Temos que aquietar. Perceber os pequenos milagres cotidianos.
Dar importância. Receber o recado. Deixar vingar apenas a serenidade. Em
pratos quentes. E quando se aquieta assim, não digo pra aceitar a derrota ou
subir em cima do muro ou se tornar um arredio velho rabugento. Quando a
nossa alma aquieta, estamos muito mais fortes pra enfrentar os dissabores,
as dívidas mal-pagas, os atrasos da incoveniência. Libertos pra revolucionar
a vizinhança com idéias mirabolantes, livros novos e gargalhadas afiadas.
Alívio. E se alívio é prazer, já tá tudo certo. Além do prazer, precisamos
de que afinal?
Prazer, mano, prazer. Tão simples como diferenciar novamente o que é normal
e o que é absurdo. E o que é bom e ruim nisso. E o que queremos de verdade
da normalidade e do absurdo. Na verdade. Só isso.
A todos, silêncio. Aquietar um pouco pra, enfim, barulhar em fogos de
artifício. Barulhar o alívio, barulhar o prazer. Isso em 2010 pra sempre.
Beijo a todos. Sato

Um comentário:

  1. so sei que quando nascemos com criatividade, ela nunca sai de nós. parabens pelo seu trabalho grace...... ainda vou ver muitas terças insanas por ai.(jackson ferreira).mg bh
    e-mail jack_jackferreira@hotmail.com

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